A notícia apareceu primeiro no Le Fígaro, edição de 30 de maio último: “Facebook e Twitter banidos da TV”, dizia o título. De acordo com o CNA(Conselho Nacional de Audiovisual), estações de rádio e canais de TV franceses devem parar de distinguir redes sociais no ar a não ser que estejam a cobrir histórias sobre determinada rede. Ou outra... Em outras palavras, é proibido dizer “Facebook” ou “Twitter” no ar, noticiou o The Atlantic Wire, no dia 3 de junho.
A decisão visa a regular a competição e favorecer as redes menores, diz o Conselho. Entendem as autoridades reguladoras da mídia em França que nomear as grandes redes sociais é propaganda sub-reptícia, e nenhum membro da mídia poderá encaminhar audiência para nenhuma das duas principais redes sociais. A decisão das autoridades francesas está baseada no decretonº 92-280, de 27 de março de 1992. Informou também The Atlantic Wire que Christine Kelly, porta-voz do Conselho na França, declarou que não via sentido em “dar preferência ao Facebook, que vale bilhões de dólares, quando existem muitas outras redes sociais lutando por reconhecimento. Isto seria uma distorção da competição. Se nós permitirmos que o Facebook e o Twitter sejam citados no ar, seria o mesmo que abrir a caixa de Pandora – outras redes sociais vão reclamar conosco, dizendo `Por que não nós?´”
“Propaganda estatal” do Minitel
A mídia de língua inglesa ficou pasma. Matthew Fraser, escrevendo para o Business Insider, descreveu os franceses como um povo “obcecado por regras, micro-mediações e regulamentos”. Fraser acrescentou ainda que achou “ridícula” e “incompreensível” a decisão da autoridade reguladora francesa. E que tal situação seria inconcebível na Inglaterra ou Estados Unidos, assinalou o professor. Citando o blogueiro francês Benoit Raphael,“Facebook e Twitter são agora `espaços públicos´ da comunicação de alcance global”, continuou o comentarista do Business Insider.
O argumento merece uma observação: com todo o respeito ao professor Fraser e ao blogueiro gaulês, entender o Facebook, principalmente, e o Twitter como “espaços públicos” parece-me risível. Há uma diferença enorme entre dois negócios suportados por anunciantes e um espaço público – que é propriedade pública de usufruto coletivo. Os dois podem ser gratuitos, mas de forma alguma públicos. Mas Fraser não parou por aí. Segundo ele, as duas redes (assim como todas as grandes marcas comerciais norte-americanas) são vistas pelas autoridades francesas como “instrumentos da dominação anglo-saxônica”. “Ressentimento cultural” estaria, segundo ele, por trás de tudo. Mas o professor se esquece que “ressentimento cultural” entre Inglaterra e França já existe desde a Guerra dos 100 anos. É mútuo e vem dos dois lados do Canal que separa as duas nações...
Depois desse lugar-comum incabível hoje em dia, o autor termina seu artigo comparando o que ele chamou de contraste entre a proibição em questão hoje, com o que ele chamou de “propaganda estatal” que os franceses supostamente fizeram do Minitel – um terminal rústico bem semelhante ao hyper-terminal do Windows, nos anos de 1980 até 1990, quando o surgimento da web destruiu para sempre o sonho francês de liderar a comunicação digital na Europa.
Onde foi parar a capacidade crítica?
Será possível que o professor Matthew Fraser esteja querendo insinuar que os franceses estão se vingando dos americanos por seu fracasso retumbante com o Minitel? Serão os franceses tão mesquinhos assim? Acredito que não. A realidade muitas vezes reside no óbvio e esconde-se nas rotinas da sociedade. A mídia internacional introjetou o hábito sem perceber que cada vez que encaminhava a audiência ao Facebook ou ao Twitter fazia propaganda gratuita dos dois. Será que eles precisam de mais propaganda? Esta é a pergunta que devemos fazer.
Outra questão a explicar é como pudemos naturalizar tal prática sem notarmos que fazíamos publicidade sem perceber. Onde foi parar nossa capacidade crítica? Pergunto isso agora porque eu também nunca havia notado o fato: Facebook e Twitter eram os lugares para onde deveríamos ir, se quiséssemos continuar acompanhando tudo aquilo que havia ficado fora de alguma determinada transmissão, por rádio ou TV. Simples assim... Quantas vezes não deixamos de notar que mais e mais a cada dia todas as transmissões estão a acabar da mesma forma: com um encaminhamento a uma ou outra rede social? Ou às duas?
Com a palavra os especialistas em regulação de mídia.
Fonte: Observatorio da imprensa
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